segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Memória do Futebol Cearense - Ceará Vice-campeão da Copa do Brasil


O placar do Castelão marca 0x0, resultado do primeiro jogo da final da Copa do Brasil de 1994 (Foto: Stênio Saraiva/Arquivo)

O vice da Copa do Brasil de 1994, até hoje a maior conquista do Ceará em âmbito nacional, completou 15 anos em 10/08/2009.

A data é um misto de alegria e tristeza para a galera do Alvinegro. Por um lado, o time de Porangabuçu decidiu a segunda maior competição nacional e garantiu vaga na disputa da Conmebol, torneio Sul-Americano que não mais existe — deu lugar à Copa Sul-Americana. Por outro, jamais esqueceu um lance polêmico, que poderia ter mudado a história: um pênalti não marcado pelo árbitro paulista Oscar Roberto de Godoy sofrido por Sérgio Alves pôs fim ao sonho de uma equipe, que contava com quatro cearenses entre os titulares, ser campeão do Brasil.
O Ceará iniciou a campanha um tanto descrente. Na primeira fase, venceu o Campinense por 2x0 no Estádio Presidente Vargas. Porém, mesmo se classificando, perdeu a partida de volta por 2x1, no Amigão.

Arrancada
A desconfiança após esse revés foi logo desfeita nas fases seguintes. O Alvinegro, pela ordem, eliminou, sempre fora de casa, bem longe da sua torcida, o Palmeiras de Vanderley Luxemburgo, em pleno Parque Antártica, o Internacional, no Beira-Rio, e o Linhares, no Guilherme Carvalho, até chegar às finais diante do Grêmio de Luiz Felipe Scolari, no Olímpico, onde perdeu o título.

Castelão lotado

O time comandado por Dimas Filgueiras que contava, dentre outros, com os cearenses Ivanoé, Ronaldo Salviano, Airton, Claudemésio, Ivanildo e Jaime, desperdiçou a chance do título no jogo de ida contra o Grêmio, ao perder inúmeras chances de gol. Na ocasião, o Castelão recebeu um público pagante oficial de 53.915. Entretanto, duas horas antes do jogo, em comum acordo, a Federação Cearense de Futebol (FCF) e a Polícia Militar (PM), ´para evitar uma catástrofe´, mandou abrir os portões, já que não tinha como dar vazão à entrada dos torcedores e, assim, milhares entraram sem pagar. Vale lembrar que o Castelão, com sua capacidade anterior, estava completamente repleto.

POR ONDE ANDAM

Protagonistas seguiram diversos caminhos



Ex-goleiro Chico, hoje, é gerente de futebol do Ferroviário (Foto: Kiko Silva)

À exceção de Sérgio Alves, os demais atletas que disputaram a Copa do Brasil de 1994 seguiram outras profissões. O goleiro Chico é gerente de futebol do Ferroviário. O zagueiro Airton e o volante Ivanildo são funcionários de uma empresa de segurança e disputam no mesmo time o campeonato de futebol da categoria. Mastrillo e Vitor Hugo são treinadores de futebol. Ronaldo Salviano é funcionário da Cagece e bandeirinha. Claudemésio é mototaxista; Jaime é funcionário do Guarany, e Catatau microempresário em Campinas/SP.

VILÃO

Apesar das evidências, Godoy nega pênalti ocorrido


O ex-árbitro Oscar Roberto de Godoy, que impediu, com um grave erro de arbitragem, a conquista do Ceará, num programa televisivo apresentado pelo jornalista Milton Neves, do qual participou Sérgio Alves, na época, vestindo a camisa do Guarani/SP, negou que tenha existido a penalidade. Todos os presentes ao programa foram unânimes, após analisar o lance várias vezes, em afirmar o contrário.
Em março de 2002, na reinauguração do Castelão, Godoy esteve em Fortaleza na condição de comentarista de arbitragem, sua atual profissão, e, em conversa informal com o jornalista Luís Carlos de Freitas, reafirmou que não houve pênalti no lance.

PÊNALTI SOFRIDO

Sérgio Alves conta como foi lance decisivo



Atacante alvinegro é hoje um dos ídolos da torcida alvinegra (Foto: Rodrigo Carvalho)

Para a torcida do Ceará Sporting, não foi o gol de Nildo, que depois vestiria a camisa do Vozão, o lance que decidiu a Copa do Brasil, e sim o pênalti sofrido por Sérgio Alves, aos 31 minutos do segundo tempo. Quem conta como aconteceu a jogada é o próprio jogador, de 40 anos (incompletos) que, desde o ano passado, retornou a Porangabuçu.

´O único detalhe que não me lembro muito bem foi quem lançou a bola, se o Jerônimo ou o Catatau. Recebi em condição de marcar. O zagueiro Paulão vinha em desvantagem e teve que me calçar. Tinha convicção de 99% de que faria o gol. Porém, ouvi o apito do Godoy. A princípio, fiquei tranqüilo, pois imaginava que ele tinha marcado o pênalti que todo mundo viu. No entanto, ele deu tiro de meta para o Grêmio´.

Revolta e expulsão

Sérgio Alves explica que, em seguida, partiu na direção de Godoy para tomar satisfação. ´No caminho ele foi logo me apresentando o cartão amarelo. Como tinha certeza do pênalti, prossegui e lhe dei uma peitada. Então, ele me expulsou´. Para o Carrasco, Oscar Roberto de Godoy ´colocou na balança toda a situação e optou por não assinalar a falta de Paulão. Se o jogo tivesse acontecido aqui, ele teria marcado, pois sabia que não deixaria o Castelão´, garante. Para Sérgio Alves, o lance frustrou não só a ele como a todos os jogadores. ´Perdemos o título por causa de um erro e não por falta de capacidade´.

ELENCO CASEIRO

Dimas lançou vários pratas da casa no time


O elenco do Ceará contava com alguns jogadores experientes, como o goleiro Chico, hoje funcionário do Ferroviário, Mastrilo e Vitor Hugo, que são treinadores, e Catatau, que se destacou em várias equipes do futebol nacional. Mas, tinha muitos jovens valores da terra, todos lançados por Dimas Filgueiras Filho, o vitorioso treinador do Vozão na campanha da Copa do Brasil.

´Formamos um time com muitos pratas da casa, como Ronaldo, Airton, Jaime, Ivanildo e Claudemésio. Ninguém acreditava, mas, aos poucos, o time foi crescendo e se tornou a sensação da competição´, relata Dimas Filgueiras.

Retranca de araque

Interessante é que Dimas Filgueiras ganhou fama de retranqueiro. Todavia, o seu time, na verdade, era dos mais ofensivos, contando só com dois volantes — Mastrillo e Ivanildo—, um meia —Elói— e três atacantes: Catatau, Jerôniomo e Sérgio Alves. ´As pessoas confundiam as coisas. A nossa estratégia era jogar com o regulamento debaixo do braço. Aqui em Fortaleza, tínhamos uma postura. Lá fora, ficávamos esperando para dar o bote na hora precisa. Foi assim que eliminamos o Internacional, o Palmeiras e o Linhares, que não conseguimos bater dentro de casa´.

Por pouco


Dimas Filgueiras montou o time que conquistou o vice-campeonato (Foto: Tuno Vieira)

Para Dimas, a estratégia montada para vencer o Grêmio no Olímpico foi correta. ´Infelizmente, o Godoy atrapalhou tudo´.

CAMPANHA

1ª fase

22/02 Ceará 2x0 Campinense

25/03 Campinense 2x1 Ceará


Oitavas-de-final

18/05 Ceará 0x0 Palmeiras

29/05 Palmeiras 1x1 Ceará


Quartas-de-final

05/06 Ceará 1x0 Inter/RS

08/06 Inter/RS 2x1 Ceará


Semifinais

23/06 Ceará 0x0 Linhares/ES

24/07 Linhares/ES 0x1 Ceará


Finais

07/08 Ceará 0x0 Grêmio

10/08 Grêmio 1x0 Ceará

FICHA TÉCNICA

Grêmio 1 X 0 Ceará


GRÊMIO-Danrlei; Ayupe, Paulão, Agnaldo e Roger; Pingo, Jamir, Émerson e Carlos Miguel (Wallace); Fabinho e Nildo (Carlinhos).

Técnico: Luiz Felipe Scolari.

CEARÁ-Chico; Ronaldo, Airton, Vitor Hugo e Claudemésio; Mastrillo, Ivanildo e Elói; Catatau, Jerônimo e Sérgio Alves.

Técnico: Dimas Filgueiras.

Competição - Copa do Brasil.

Estádio - Olímpico. Data - 10 de agosto de 1994. Árbitro - Oscar Roberto de Godoy. Público - 49.263 pagantes. Gol - Nildo, aos 3 min do 1º tempo. Cartões Amarelos - Chico, Ronaldo, Airton, Mastrillo, Vitor Hugo, Catatau, Ivanildo, Carlos Miguel e Agnaldo. Cartões Vermelhos - Sérgio Alves e Vitor Hugo.

ONDE ANDA

> Chico (goleiro) - Atualmente trabalha como auxiliar-técnico do Ferroviário

> Ivanoé (goleiro) - Abandonou o futebol em 2006 e hoje mora em Quixadá

> Airton (zagueiro) - Trabalha como segurança e disputa campeonatos de subúrbio

> Aldemir (zagueiro) - É gerente do Ferroviário

> Ronaldo Salviano (volante) - Era árbitro e agora treina o Maguary

> Ivanildo (meia) - Mora em Fortaleza

> Roberto Carlos - (lateral ) - Supervisor do Horizonte

> Jaime (lateral) - Atua como amador, em Sobral

> Zé Ricardo (meia) - Mora no Rio de Janeiro

> Malhado (lateral) - Reside em Recife

> Claudemir (atacante) - É frentista na Capital

> Elói (meia) - Mora no Rio de Janeiro

> Claudemésio (lateral) - É de mototaxista em Fortaleza

> Da Silva (zagueiro) - Disputou a 3ª Divisão estadual pelo São Benedito

> Vitor Hugo (zagueiro) - Atua como técnico de futebol

> Sérgio Alves (atacante) - Continua no clube.Tem 39 anos

> Mastrillo (volante) - Treina o River do Paiuí

> Gerônimo (atacante) - Mora em Maceió (AL)

> Catatau (atacante) - Tem uma fábrica de papelão, em Campinas (SP).

> Nonato (atacante) - Falecido

> Dimas Filgueiras (treinador) - É funcionário do Ceará.

> Paradeiro desconhecido - Niltinho, Bizu, Ney e Rildo (atacantes), Renato Martins (lateral esquerdo), Eugênio (zagueiro) e Cafu (lateral)

Opinião do especialista

Imperdoável erro

Tom Barros


Jamais esquecerei a decisão da Copa do Brasil de 1994. Fui confiante a Porto Alegre narrar o jogo para a Verdinha. O Ceará tinha time para ganhar. Não contava, porém, a perturbação permanente da torcida do Grêmio. Próximo ao hotel, houve foguetório durante boa parte da noite. Objetivo: não deixar dormir o grupo alvinegro.
A caminho do Estádio Olímpico, vi que a pressão seria muito maior. Um mar azul, preto e branco pelas ruas que levavam ao cenário do jogo. A recomendação do técnico Dimas foi no sentido de o Vozão segurar os 15 primeiros minutos. Não deu: logo aos três, o gol gremista ( 1 a 0). Fiquei a imaginar como seria a reação do Ceará a partir dali. Sentiria o golpe ou o neutralizaria? Neutralizou. Pouco a pouco, o meia Elói foi colocando as coisas nos devidos lugares.
O equilíbrio predominou. O Ceará manteve a prudência, característica sua durante toda a campanha, mas não raro encaixava contra-ataques. No final do jogo, quando os gremistas já comemoravam, o lance polêmico. Sérgio Alves derrubado na área. Na minha opinião, pênalti claro. Na opinião do árbitro Roberto Godói, lance normal. Árbitro ´caseiro´, frouxo.
Pouco depois, Grêmio campeão. Teve seus méritos, claro. Mas restou nos cearenses a frustração da perda do título. Não pela falta de competência, mas pela forma como aconteceu: imperdoável erro da arbitragem. No último minuto, um pênalti com Sérgio Alves em campo seria o gol do título. Hoje, Godói posa de comentarista na televisão. No Brasil é assim...

* Colunista do Diário do Nordeste

Fontes: Jornais Diário do Nordeste e O Povo

2 comentários:

Unknown disse...

Se houvesse escutas telefonicas, com serteza o Godoi unha de cavalo siu do olimpico com a mala cheia de money. Ele foi o escolhido para prejudicar o o vozão e procurar expulsar de qualquer maneira o endiabrado Sergio Alves o terror dos goleiros naquela competição que não deixaram o vozão ganhar pela bela campanha e também de ser um club do Nordeste.

Unknown disse...

É este o meu comentário... João Carlos mesquita - RJ